Os anos 70: uma era de descoberta musical exuberante. A música rock, que nasceu na década de 50 da fusão do rhythm & blues com a música country, foi crescendo e evoluindo em muitos subgrupos. Na mesma vertente veio também o acid rock, baseado em experiências com drogas (Pink Floyd, Deep Purple), o hard rock, destacando uma batida rítmica sólida (Led Zeppelin, Genesis) e rock progressivo, o que permitiu grandes solos instrumentais e melodias mais prodígias (Fleetwood Mac) . Foi um momento emocionante, onde os músicos estavam constantemente experimentando, e sendo pioneiros de diversas formas de fazer música. Foi também durante esta época que nascia uma das bandas de rock mais ilustres do mundo: Petra.
Tudo começou em 1972, em Ft. Wayne, Indiana, EUA. Quatro jovens músicos cristãos, Bob Hartman, Greg Hough, John DeGroff e Bill Glover, sentiram o chamado de Deus para um ministério exclusivo. Sua visão – criar uma banda de rock cristão e alcançar o mundo através de daquela que era apontada uma tendência musical radical. Era um pensamento emocionante e só poderia ter sido “puxado para fora” por essas almas fervorosas cuja paixão pela música criou um trabalho de visão tão revolucionária.
Hartman e DeGroff, ambos vindos de Ohio, eram na verdade ex-companheiros em um grupo de três instrumentos, que começaram juntos em uma banda chamada Rapture. DeGroff, posteriormente, mudou-se para Ft. Wayne para se dedicar a um curso bíblico, enquanto Hartman ficou e estabeleceu uma amizade com o colega guitarrista Greg Hough.
Já em Ft. Wayne, DeGroff participou de um ministério da juventude local chamado Adam´s Apple e foi lá que ele conheceu Bill Glover. Glover reconheceu-o do Rapture e o convidou para tocar com alguns amigos dali em diante
Enquanto isso, Hartman e Hough decidiram se mudar para Ft. Wayne para prosseguir a sua carreira no ministério bíblico e logo se juntaram a DeGroff e Glover no Adam´s Apple. Eles conseqüentemente fizeram jam sessions e as coisas começaram a tomar forma. Deus estava movendo-os aos poucos, e certamente cada um tornou-se mais e mais comprometido com a idéia de uma banda de rock “comprada-por-Cristo”.
Então, foi no outono de 1972 (no hemisfério norte – no mês de setembro) que a banda tornou-se oficial. Hartman e seus companheiros batizaram o grupo de Petra, da palavra grega que significa “rocha” (algo que eles devem ter visto no Bible College). O nome foi escolhido como um testamento a sua fundação – a rocha de Jesus Cristo (e também porque eles tocavam rock, como “Petra” induz a pensar explicitamente nisso). A linha de frente inicial foi a seguinte: Bob Hartman (guitarra e voz), Greg Hough (guitarra e vocal), John DeGroff (baixo) e Bill Glover (bateria, percussão).
Sua missão era simples – fazer shows de palco e, posteriormente, compartilhar o evangelho com as pessoas que vinham ouvir sua música. E isso é exatamente o que eles fizeram para os primeiros dois anos. Tocando principalmente no Meio-Oeste americano, apareceram em cafés, colégios, salões de igrejas, faculdades e até mesmo em parques da cidade. Lentamente, mas acertadamente, eles imprimiram para si mesmos um nome tão marcante de roqueiros cristãos, apesar da oposição que se formava das alas mais conservadoras da comunidade cristã. Mas apesar de serem muitas vezes mal interpretados, serem postos em dúvida, e sendo caluniados por seus próprios irmãos e irmãs em Cristo, o Petra seguiu em frente, tocando e se aproximando de cristãos e não-cristãos.
Em 1973, o Petra assinou um contrato de gravação com o selo cristão Myrrh. No ano seguinte, após duas semanas de gravação e ao custo de meros US$ 900, seu auto-intitulado álbum de estréia, Petra, alcançou as prateleiras.
Petra (o álbum) não exatamente alavancou a banda para o topo das paradas, embora a tendência fosse a imposição de se definirem no primeiro álbum da banda. Seu som lembrava em muito o do rock californiano popularizado pelo Eagles. Hartman deu aos ouvintes um gostinho de seu primeiro contato com suas habilidades de compositor, embora muito do que ele escreveu para o Petra não era exatamente um material impressionante, se comparado ao que ele viria a realizar. No entanto, quando faltava profundidade lirica, ele e Hough compensavam com seus riffs de guitarra, que eram marcantes. Seus acordes, combinados com a bateria de Glover e DeGroff no baixo, fizeram de Petra um ótimo álbum de estréia, apesar de não ter ido tão bem nas vendas.
Apesar do sucesso-um-tanto-medíocre de sua estréia, a banda continuou com sua visão e começou a ganhar a fama com seus estimulantes shows ao vivo. As pessoas começaram a tomar nota da sua capacidade de encantar no palco. As pequenas platéias que os seguiam, sem dúvida eram fonte de inspiração para que eles continuassem a exercer a sua missão.
O segundo álbum do Petra, Come and Join Us, apresentou Greg X. Volz como vocalista convidado (por ter gravado com o popular artista Steve Camp, estava entre os outros dois com quem também compartilhava os vocais). Convidado por Bob para ser lead vocal em duas canções e backing em outras, Greg encantou – e evidentemente emocionou Hartman. Foi o início de um relacionamento de longa data entre Hartman e Volz, uma química incrível que se espalharia por todo o trabalho do Petra, e os levaria a vanguarda da música cristã.
Canções notáveis desta época incluem Ask Him In, Where Can I Go, Woman Don’t You Know, e a primeira versão de God Gave Rock And Roll To You (que viria a ser lançado com uma versão diferente em Beat the System). Killing My Old Man quase foi incluída neste álbum, mas por causa da prevalência de “death rock”, concordaram deixaram-lá de fora para evitar controvérsias (esta música mais tarde apareceu no álbum Never Say Die).
Come and Join Us seria ainda um outro álbum marcante, um pouco mais trabalhado do que o de estreia, embora não fosse ainda o blockbuster que o Petra estava esperando. Na verdade, as vendas lentas fizeram com que a Myrrh os tirasse de sua lista por um tempo, e a banda parecia à beira de um fim prematuro. Mas eles continuaram em frente.
Sem se deixar intimidar pela falta de uma gravadora, o Petra simplesmente continuou com o que se propuseram a fazer em primeiro lugar: tocar ao vivo e falar sobre Jesus para as platéias. Eles atravessaram o país, com eletrizantes multidões ouvindo sua ótima música cristã, ao mesmo tempo em que apresentavam o evangelho aos seus espectadores, espiritualmente sedentos. Eles se tornaram conhecidos pela sua vibração e, tocando sucessos como Killing My Old Man and Disciple, foram descritas com uma banda de uma alegria muito forte. A versão completa de 45 minutos de Backsliding Blues, 10 minutos de guitarra, baixo e solos de bateria, sempre levava o público à loucura. O Petra foi rapidamente celebrado como uma extraordinária banda com o pé na estrada.
Um dia, enquanto ainda excursionavam sem contrato com gravadoras, o Petra foi abordado por uma gravadora relativamente nova – a StarSong Records. Esta empresa visionária, fascinada pelos objetivos do Petra e seu potencial, estabeleceu um contrato feito sobre medida para eles. A banda ficou agradecida com este desenrolar, mas teve de se certificar de que não iria comprometer seu ministério nem tampouco sua música. Após se sentarem e se convencerem de que a StarSong havia entendido o seu objetivo e missão, o Petra assinou com eles.
Seu terceiro álbum, Washes Whiter Than, revelou o primeiro hit da banda nas rádios, Why Should The Father Bother? . A reflexiva letra de Hartman com uma melodia lúdica, sem dúvida, impressionou as pessoas enquanto Volz, com a sua elegância ao elevar a música com uma paixão simples e honesta, deixaram os ouvintes encantados!. O som geral da banda em WWT não foi tão pesado como os seus antecessores, mas simplesmente as pessoas foram levadas a prestar mais atenção ao que a banda estava tentando mostrar. O seu sucesso nas ondas do rádio começou a significar um futuro ainda melhor para o grupo, embora eles ainda tivessem que enfrentar a oposição de muitas igrejas e cristãos que não podiam tolerar os “sons radicais” e sua abordagem no ministério.
Na virada da década, a StarSong investiu em outro álbum do Petra. Jonathan David Brown foi contratado como produtor e, com ele a bordo, o som do Petra começou a dar forma a uma marca distintiva do rock que caracterizariam a sua música pelos próximos seis anos.
A formação da banda variou durante esse período, mas mesmo assim eles conseguiram agrupar-se adequadamente para realizar seu próximo projeto. Mark Kelly entrou como baixista e John Slick assumiu os teclados, e a banda original sofreu uma grande sacudida. Apesar disso, no entanto, o Petra havia dedicado grande quantidade de energia criativa e esforço para o seu quarto álbum. O resultado dessa descoberta: Never Say Die. Este foi o álbum pelo qual o Petra estava orando para que acontecesse. A banda se desdobrou para agradar a todos, como ficou evidente em músicas que foram sucessos de rádio, tais como The Coloring Song, For Annie, e manter a sua sensibilidade com o rock em canções formidáveis como Chameleon e Angel of Light . A banda voltou à estrada com seus “roqueiros cristãos” e abriu seu caminho em todo o país novamente, se fortalecendo enquanto ministrava a Palavra de Deus através da sua música, que seguia em constante melhoria.
O Petra realizou 161 concertos em 1982, fazendo um sucesso estrondoso e tendo Never Say Die como carro-chefe. Em junho do mesmo ano, eles tiraram cinco semanas de descanso para então voltar ao estúdio e gravar seu próximo e quinto álbum.
Como sua base havia se solidificado, Louie Weaver entrou como baterista definitivo. Satisfeitos com seu próprio desenvolvimento, a banda se aproveitou de sua nova química e continuou alavancando ainda mais seu sucesso ao fazer o álbum seguinte, More Power To Ya, que acabou por ser tão bem sucedido quanto Never Say Die.
Novamente, More Power To Ya rendeu radio hits que os tornavam cada vez mais populares entre os ouvintes cristãos. A faixa-título de mesmo nome foi incluído em um álbum contendo uma compilação das dez melhores músicas cristãs desse ano. Outros clássicos incluídos, como Stand Up e a balada acústica Road to Zion, ambas músicas tão inspiradoras que rapidamente obtiveram aceitação entre seus fãs. MPTY, sem dúvida, teve seu bloco de músicas rock, principalmente com Judas ‘Kiss, que é indiscutivelmente um dos melhores e eternos hinos do Petra. Ela começa com uma mensagem feita com a técnica Backward Masking e avança assustadoramente lenta através de riffs distorcidos e uma batida “matadora”. Volz começa com um estranho lamento durante a música e Hartman balança totalmente os ouvintes com um solo bacana perto do fim (a mensagem em Backward Masking, para quem não sabe, foi uma surpresa para muitos ultra-fundamentalistas, que tinham a esperança de encontrar no álbum do Petra alguma mensagem satânica em sua música, provando assim que o grupo fazia “algo oculto” que não era revelado a todos os cristãos. Eles ficaram bem desapontados, e para grande alegria dos fãs a seguinte declaração foi descoberta: “Por quê vocês estão procurando pelo demônio enquanto deveriam estar buscando ao Senhor?”!).
O Petra apresentou 152 shows no ano seguinte, devido fortemente à promoção de More Power To Ya e à continuação do objetivo de ministrar aos perdidos. Concertos sempre destacavam “apelos no altar”, que era o modo como a banda incentivava os ouvintes a tomar uma decisão por Cristo. Sua prioridade com evangelismo os ajudou a trazer de volta uma cultura da qual os cristãos estavam sendo desobedientes ao Senhor – e eles também conseguiram isso em grande estilo.
O mês de Agosto de 1983 viu a produção do sexto álbum do Petra: Not of This World, onde a banda levou seis semanas fora dos shows para compor o novo trabalho. Not Of This World destacou mais sons sintetizados do que os álbuns anteriores do Petra, e John Slick fez um bom trabalho de expressar o sentimento desse registro com o seu trabalho nos teclados, evocando o mistério e o inaudível em muitas canções. Hartman escreveu alguns dos melhores radio hits do Petra até então, incluindo a vibrante Graverobber e a faixa-título, Not Of This World. Volz soou ainda mais arrepiante neste ‘passeio’ e suas interpretações de algumas das canções deixaram ouvintes realmente se sentindo que, de fato, não eram deste mundo.
Então, em Novembro de 1984, o Petra lançou um de seus álbuns mais desafiadores: Beat the System. Até esta data, o Petra havia vendido mais de um milhão de discos em sua carreira, a grande maioria deles (900.000) desde sua descoberta em 1981. Beat The System só iria aumentar esse número. Explorando um pouco mais um som techno-rock sintetizado, a banda produziu um dos seus mais “unificados” álbuns até aquele momento. Enquanto outros projetos ostentaram músicas fortes e fracas, Beat The System vangloriou-se de canções sólidas durante todo o tempo.
Começando com a faixa-título, Hartman e seu time levaram ouvintes a uma viagem em meio a um rock convincente, exortando os fiéis a serem firmes no Senhor, e com ousadia fazer “ruir o sistema“. Clean nos lembra que, porque estamos limpos e irrepreensíveis aos olhos do Senhor, podemos viver a vida cristã vitoriosa; It Is Finished poderosamente declara a história de redenção e efetivamente como Jesus venceu a batalha por nós na cruz. Outras canções foram incluídas, como as impressionantes Hollow Eyes, Voice In The Wind e a segunda versão de God Gave Rock ‘n’ To You, que os consagraram.
O álbum também sinalizou a chegada do tecladista principal, John Lawry (que anteriormente pertencia à Joe English Band). Vindo de Michigan, este virtuoso músico rapidamente demonstrou suas habilidades em BTS e sua maneira de tocar teclado de forma exuberante tornou BTS um dos álbuns mais prazerosos para a banda. Beat The System entrou para a história do Petra como um de seus discos mais vendidos, alcançando milhares de cópias em apenas uma questão de semanas.
A capa de BTS se desviou momentaneamente dos temas da típica guitarra voadora. Ao invés disso, apresentou a visão (de cima) de um homem diante de uma pilha de monitores, cegados por uma luz que brilha diante do monitor central. Nas telas um grupo de cerca de cinco pessoas poderia ser visto andando através do vermelho, assim como terreno de Marte. É, sem dúvida, uma das capas de álbum do Petra mais misteriosas, e apenas aumentou a sensação de enigma sobre o álbum lançado.
Em 1985, o Petra lançou o um álbum duplo ao vivo, chamado Captured in Time and Space. Este álbum apresentou versões ao vivo de todas as músicas de Beat The System (exceto Witch Hunt) e uma boa seleção de outros álbuns lançados após Never Say Die. Membros da banda também apresentaram-se individualmente fazendo solo (John Lawry novamente deixou os ouvintes deslumbrados por brincar com um sampler digital durante a sua jam session), e a canção que foi um ponto alto foi a chamada The Great I Am, que foi feita espontaneamente, com o concerto em andamento. CITAS expôs o Petra como um grupo talentoso e eletrizante, e mostrou a todos os que estavam em seus shows ao vivo o quão excepcional uma banda cristã de rock eles eram.
1986 a 1995 : Back to the Streets à No Doubt